segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Algumas considerações importantes para a construção de um bom texto dissertativo-argumentativo – redações escolares


Material elaborado por Rômulo Tiago da Silva

A argumentação inclui procedimentos que desempenham o raciocínio lógico e o predomínio da não-contradição naquilo que a pessoa que escreve quer dizer.
- Envolve um campo problemático, isto é, o problema que dá origem à argumentação, geralmente feito através de uma interrogação;
- Envolve uma tese, que é uma afirmação sobre algum assunto da qual o argumentador submete a aprovação do leitor. A tese, será, portanto, o posicionamento do autor do texto em relação a um determinado campo problemático;
- E, principalmente, envolve argumentos, que sustentará a tese.

Tipos de argumentos:
1 – argumento de autoridade: quando o autor do texto argumentativo traz a voz de outras pessoas que são verdadeiras autoridades em determinado assunto para reforçar a sua tese. Esse argumento deverá ser introduzido por meio de citação direta ou indireta.

Exemplo de texto:
          O velho Marx tinha razão quando disse: “A religião é o ópio do povo”. Fiéis, no seu fundamentalismo bíblico, encobrem o rosto com o véu do fanatismo e da alienação e ainda acham que tudo não passa de uma tramoia. É lamentável. O neopentecostalismo com a Teologia da Prosperidade não venceu a desilusão do mundo pós-moderno, onde ainda imperam poder, ganância e corrupção.
       
          Comentário sobre o texto acima: o argumento de autoridade está presente na parte sublinhada. A autoridade aí, é o filósofo Karl Marx. Seu argumento é exposto no texto pelo jornalista da revista VEJA, de onde ele foi tirado através de uma citação direta – entre aspas. Nessa mesma citação está a tese do autor que, ao usar as palavras de Marx, afirma que a religião é o ópio do povo. Depois, ele traz argumentos para desenvolver sua afirmação.

2 – argumento baseado em provas concretas: é o argumento que se baseia em fatos comprobatórios (estatísticas, dados históricos, fatos da experiência cotidiana).

Exemplo de texto:
          As eleições de 2006 promoveram, na Câmara dos Deputados e no Senado Federal uma tímida renovação. Dos 513 deputados eleitos, 278 são parlamentares que conseguiram a reeleição e apenas 235 são políticos que estavam fora. No âmbito do Senado, o retrato foi apenas um pouco diferente. Do total dos vinte novos senadores, dezenove já haviam ocupado algum cargo eletivo antes.

          Comentário sobre o texto acima: primeiramente a tese do autor do texto está na primeira linha quando ele afirma que nas eleições de 2006 a Câmara e o Senado tiveram uma tímida renovação. Para podermos descobrir qual é a tese, fazemos uma pergunta, por exemplo: A Câmara e o Senado tiveram ou não uma tímida renovação nas eleições de 2006? A resposta seria sim, pois o autor irá, por meio de argumentos de provas concretas, desenvolver sua afirmação.
           Os argumentos de provas concretas são evidenciados através da exatidão dos números, quantidades de senadores e deputados e também quando se afirma que dos vinte senadores novos, dezenove já passaram pela política. Para afirmar isso o autor usou provas que qualquer pessoa pode pesquisar e concluir que são verdadeiras.

3 – argumento de competência linguística: é o argumento baseado no modo de dizer, isto é, na utilização de um vocabulário específico de alguma área do conhecimento que seja necessário a uma determinada situação.

Exemplo de texto:
          Excelente a reportagem de VEJA sobre a testosterona. Ela aborda um novo paradigma da medicina em que a qualidade de vida e a prevenção através da reposição hormonal responsável atuam como coadjuvante terapêutico em uma série de doenças crônicas presentes no envelhecimento, como a depressão, o diabetes, a obesidade, a osteoporose, e na redução do risco cardiovascular.

          Comentário sobre o texto: os argumentos de competência linguística estão presentes nos jargões específicos utilizados pela medicina, como obesidade, osteoporose, risco cardiovascular. Esse tipo de argumento acontece quando inserimos um assunto que não é de nossa área ou competência. Poderia ser palavras específicas da Engenharia, do Direito, da própria Linguística, da Psicologia, da Arquitetura, etc, dependendo do assunto abordado no texto. 

4 – Argumento baseado no senso comum: é o argumento construído a partir de um conhecimento geral das pessoas e que é partilhado por todos.

Exemplos:
          A família é a base de tudo.
          Todo brasileiro é preguiçoso.
           A educação é a base do desenvolvimento.

          Todos esses argumentos e muitos outros são ditos no cotidiano e poderiam ser utilizados em algum texto argumentativo dependendo do tema.

MODALIZADORES DE ENUNCIADO – uso nos textos dissertativos – redações

              Num texto argumentativo-dissertativo prevalece sempre um tipo de modalizador, que se chama modalizador do eixo do saber, pois o autor do texto pretende persuadir o seu leitor sobre determinado assunto.

              Exemplos de modalizadores do saber: é certo, é preciso, é necessário, é óbvio, não pode haver dúvida, certamente, necessariamente.
              Todas esses modalizadores, quando utilizados num texto oral ou escrito, indicam que o autor tem plena certeza do que está falando ou escrevendo.

SELEÇÃO LEXICAL – Palavras ou expressões

             Num texto argumentativo-dissertativo há um recurso muito utilizado para persuadir o ouvinte ou o leitor. Esse recurso chama-se seleção lexical, que consiste no uso de palavras ou expressões de sentido positivo, negativo ou neutro.

             Exemplo:
                       Quem dá aos pobres empresta a Deus, diz o ditado. Em certos casos, empresta ao diabo: é o caso que se vê na cidade de São Paulo, onde há dois anos existe uma campanha estimulando as pessoas a não dar esmolas às crianças na rua. Esse dinheiro tem, de fato, efeitos diabólicos: 1- vicia a criança, dificultando que saia na rua; 2- alimenta quadrilhas de adultos; 3- sustenta a exploração infantil que se assemelha ao trabalho escravo.
           Comentário sobre o texto:
                        Primeiramente, o texto acima inicia com um argumento baseado no senso comum: “Quem dá aos pobres empresta a Deus”. Esse dito popular todos nós conhecemos. A tese é a seguinte: “Em certos casos empresta ao diabo”. Poderíamos fazer uma pergunta para descobri-la: Quem dá aos pobres empresta a Deus ou ao diabo? Nos argumentos há o predomínio de expressões negativas, como por exemplo: efeitos diabólicos, vicia, quadrilhas, exploração infantil, trabalho escravo.


O USO DAS CONJUNÇÕES – recurso para textos
          O uso correto das conjunções em textos argumentativo-dissertativos também é um recurso para a construção de um bom texto. Esse recurso não só serve para introduzir orações novas, como também para produzir certas atitudes e intenções do autor do texto.

           Dicas: o aluno para que desenvolva textos com esses recursos deve ler muito sobre diversos assuntos, pois só assim conseguirá introduzi-los em seus próprios textos.
                        O professor também pode desenvolver seu planejamento, baseando-se na estrutura de um texto dissertativo. Poderá, a cada aula, solicitar aos alunos que escrevam um parágrafo expondo a tese de um determinado assunto, depois os argumentos utilizando esses recursos aqui apresentados entre outros.
  
           Dica de Bibliografia sobre a construção de texto argumentativo-dissertativo:
                  
KOCH, Ingedore G. Villaça. Argumentação e Linguagem. São Paulo: Cortez, 1984.
       
       KOCH, Ingedore G. Villaça. A coesão textual. 19 ed. São Paulo: Contexto, 2004.

       ORLANDI, Eni Puccinelli. Discurso e texto: formação e circulação dos sentidos. São                              Paulo: Pontes, 2001.

          Abaixo, segue um texto de minha autoria em que se evidencia muitos desses recursos de construção de textos argumentativo-dissertativos. O texto, sob o título de “Planeta desgovernado” fala sobre a não atuação do homem como culpado em catástrofes.


Planeta desgovernado
Rômulo Tiago da Silva

            Com certeza não está na ação humana sobre o nosso planeta as principais causas para as grandes e avassaladores catástrofes que estão acontecendo, não só no Brasil, como também no mundo todo, pois problemas semelhantes aos verificados nos últimos anos em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e no Rio, por exemplo, já aconteceram em outras décadas: Porto Alegre foi vítima de uma enchente histórica, em 1941, que deixou o centro debaixo d’água. Nessa época, nem se falava em aquecimento global, danos à natureza provocados por desmatamentos e acúmulo de lixo.
             Segundo estudiosos, os cataclismas da natureza não fazem mais do que repetir ciclos e até os próprios especialistas divergem quanto às causas e aos impactos do aquecimento global, cuja capacidade de análise é limitada.
             Assim, não podemos depositar a culpa desses acontecimentos no homem como se somente ele fosse culpado de tudo. Muitas vezes, até mesmo por falta de comprovação e de estudos, joga-se a culpa no povo, na sociedade e, principalmente, nos políticos, que deveriam elaborar planos e metas para melhorar a infraestrutura das cidades, principalmente das grandes metrópoles, e regulamentar a não construção de moradias em áreas de risco, como por exemplo, beiradas de morros e locais próximos a rios.
              É certo saber que transformações naturais do planeta vêm acontecendo desde que mundo é mundo e sem a interferência do homem, como podemos comprovar no que diz o pesquisador Carlos Tucci, professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS): “Existe uma incerteza grande. Mas o clima também sempre variou. Quatro mil anos antes de Cristo, por exemplo, o Saara era verde”.
              Portanto, devemos ter em mente que o mundo é uma extensão muito grande de terra e que há lugares que são habitados pela “raça humana” onde, no entanto, não acontece nenhum tipo de catástrofe.    

             Comentando o texto:
              Primeiramente, inicio o texto utilizando um modalizador do eixo do saber, com certeza, pois quero persuadir os leitores com minhas informações. Não poderia, portanto, iniciá-lo, por exemplo, usando a expressão Acho que não está na ação humana sobre o nosso planeta as principais causas para as grandes e avassaladores catástrofes que estão acontecendo...
                Em seguida, uso vários argumentos em que me baseio em provas concretas, por exemplo, quando falo que catástrofes têm acontecido em Santa Catarina, Rio de Janeiro e Porto Alegre no ano de 1941.
                Depois, utilizo argumento de autoridade no seguinte trecho: [...] como podemos comprovar no que diz o pesquisador Carlos Tucci, professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS): “Existe uma incerteza grande. Mas o clima também sempre variou. Quatro mil anos antes de Cristo, por exemplo, o Saara era verde”. Esse argumento serviu para eu reforçar minha afirmação de que as enchentes, os maremotos, os ciclones, os tremores de terra, nada tem a ver com a ação do homem. Mas, para usar esse tipo de argumento é preciso estar sempre lendo sobre diversos assuntos em jornais, revistas, etc, que sejam confiáveis.

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