Material elaborado por Rômulo Tiago da Silva
A argumentação inclui procedimentos que desempenham o raciocínio lógico e o predomínio da não-contradição naquilo que a pessoa que escreve quer dizer.
- Envolve um campo problemático, isto é, o problema que dá origem à argumentação, geralmente feito através de uma interrogação;
- Envolve uma tese, que é uma afirmação sobre algum assunto da qual o argumentador submete a aprovação do leitor. A tese, será, portanto, o posicionamento do autor do texto em relação a um determinado campo problemático;
- E, principalmente, envolve argumentos, que sustentará a tese.
Tipos de argumentos:
1 – argumento de autoridade: quando o autor do texto argumentativo traz a voz de outras pessoas que são verdadeiras autoridades em determinado assunto para reforçar a sua tese. Esse argumento deverá ser introduzido por meio de citação direta ou indireta.
Exemplo de texto:
O velho Marx tinha razão quando disse: “A religião é o ópio do povo”. Fiéis, no seu fundamentalismo bíblico, encobrem o rosto com o véu do fanatismo e da alienação e ainda acham que tudo não passa de uma tramoia. É lamentável. O neopentecostalismo com a Teologia da Prosperidade não venceu a desilusão do mundo pós-moderno, onde ainda imperam poder, ganância e corrupção.
Comentário sobre o texto acima: o argumento de autoridade está presente na parte sublinhada. A autoridade aí, é o filósofo Karl Marx. Seu argumento é exposto no texto pelo jornalista da revista VEJA, de onde ele foi tirado através de uma citação direta – entre aspas. Nessa mesma citação está a tese do autor que, ao usar as palavras de Marx, afirma que a religião é o ópio do povo. Depois, ele traz argumentos para desenvolver sua afirmação.
2 – argumento baseado em provas concretas: é o argumento que se baseia em fatos comprobatórios (estatísticas, dados históricos, fatos da experiência cotidiana).
Exemplo de texto:
As eleições de 2006 promoveram, na Câmara dos Deputados e no Senado Federal uma tímida renovação. Dos 513 deputados eleitos, 278 são parlamentares que conseguiram a reeleição e apenas 235 são políticos que estavam fora. No âmbito do Senado, o retrato foi apenas um pouco diferente. Do total dos vinte novos senadores, dezenove já haviam ocupado algum cargo eletivo antes.
Comentário sobre o texto acima: primeiramente a tese do autor do texto está na primeira linha quando ele afirma que nas eleições de 2006 a Câmara e o Senado tiveram uma tímida renovação. Para podermos descobrir qual é a tese, fazemos uma pergunta, por exemplo: A Câmara e o Senado tiveram ou não uma tímida renovação nas eleições de 2006? A resposta seria sim, pois o autor irá, por meio de argumentos de provas concretas, desenvolver sua afirmação.
Os argumentos de provas concretas são evidenciados através da exatidão dos números, quantidades de senadores e deputados e também quando se afirma que dos vinte senadores novos, dezenove já passaram pela política. Para afirmar isso o autor usou provas que qualquer pessoa pode pesquisar e concluir que são verdadeiras.
3 – argumento de competência linguística: é o argumento baseado no modo de dizer, isto é, na utilização de um vocabulário específico de alguma área do conhecimento que seja necessário a uma determinada situação.
Exemplo de texto:
Excelente a reportagem de VEJA sobre a testosterona. Ela aborda um novo paradigma da medicina em que a qualidade de vida e a prevenção através da reposição hormonal responsável atuam como coadjuvante terapêutico em uma série de doenças crônicas presentes no envelhecimento, como a depressão, o diabetes, a obesidade, a osteoporose, e na redução do risco cardiovascular.
Comentário sobre o texto: os argumentos de competência linguística estão presentes nos jargões específicos utilizados pela medicina, como obesidade, osteoporose, risco cardiovascular. Esse tipo de argumento acontece quando inserimos um assunto que não é de nossa área ou competência. Poderia ser palavras específicas da Engenharia, do Direito, da própria Linguística, da Psicologia, da Arquitetura, etc, dependendo do assunto abordado no texto.
4 – Argumento baseado no senso comum: é o argumento construído a partir de um conhecimento geral das pessoas e que é partilhado por todos.
Exemplos:
A família é a base de tudo.
Todo brasileiro é preguiçoso.
A educação é a base do desenvolvimento.
Todos esses argumentos e muitos outros são ditos no cotidiano e poderiam ser utilizados em algum texto argumentativo dependendo do tema.
MODALIZADORES DE ENUNCIADO – uso nos textos dissertativos – redações
Num texto argumentativo-dissertativo prevalece sempre um tipo de modalizador, que se chama modalizador do eixo do saber, pois o autor do texto pretende persuadir o seu leitor sobre determinado assunto.
Exemplos de modalizadores do saber: é certo, é preciso, é necessário, é óbvio, não pode haver dúvida, certamente, necessariamente.
Todas esses modalizadores, quando utilizados num texto oral ou escrito, indicam que o autor tem plena certeza do que está falando ou escrevendo.
SELEÇÃO LEXICAL – Palavras ou expressões
Num texto argumentativo-dissertativo há um recurso muito utilizado para persuadir o ouvinte ou o leitor. Esse recurso chama-se seleção lexical, que consiste no uso de palavras ou expressões de sentido positivo, negativo ou neutro.
Exemplo:
Quem dá aos pobres empresta a Deus, diz o ditado. Em certos casos, empresta ao diabo: é o caso que se vê na cidade de São Paulo, onde há dois anos existe uma campanha estimulando as pessoas a não dar esmolas às crianças na rua. Esse dinheiro tem, de fato, efeitos diabólicos: 1- vicia a criança, dificultando que saia na rua; 2- alimenta quadrilhas de adultos; 3- sustenta a exploração infantil que se assemelha ao trabalho escravo.
Comentário sobre o texto:
Primeiramente, o texto acima inicia com um argumento baseado no senso comum: “Quem dá aos pobres empresta a Deus”. Esse dito popular todos nós conhecemos. A tese é a seguinte: “Em certos casos empresta ao diabo”. Poderíamos fazer uma pergunta para descobri-la: Quem dá aos pobres empresta a Deus ou ao diabo? Nos argumentos há o predomínio de expressões negativas, como por exemplo: efeitos diabólicos, vicia, quadrilhas, exploração infantil, trabalho escravo.
O USO DAS CONJUNÇÕES – recurso para textos
O uso correto das conjunções em textos argumentativo-dissertativos também é um recurso para a construção de um bom texto. Esse recurso não só serve para introduzir orações novas, como também para produzir certas atitudes e intenções do autor do texto.
Dicas: o aluno para que desenvolva textos com esses recursos deve ler muito sobre diversos assuntos, pois só assim conseguirá introduzi-los em seus próprios textos.
O professor também pode desenvolver seu planejamento, baseando-se na estrutura de um texto dissertativo. Poderá, a cada aula, solicitar aos alunos que escrevam um parágrafo expondo a tese de um determinado assunto, depois os argumentos utilizando esses recursos aqui apresentados entre outros.
Dica de Bibliografia sobre a construção de texto argumentativo-dissertativo:
KOCH, Ingedore G. Villaça. Argumentação e Linguagem. São Paulo: Cortez, 1984.
KOCH, Ingedore G. Villaça. A coesão textual. 19 ed. São Paulo: Contexto, 2004.
ORLANDI, Eni Puccinelli. Discurso e texto: formação e circulação dos sentidos. São Paulo: Pontes, 2001.
Abaixo, segue um texto de minha autoria em que se evidencia muitos desses recursos de construção de textos argumentativo-dissertativos. O texto, sob o título de “Planeta desgovernado” fala sobre a não atuação do homem como culpado em catástrofes.
Planeta desgovernado
Rômulo Tiago da Silva
Com certeza não está na ação humana sobre o nosso planeta as principais causas para as grandes e avassaladores catástrofes que estão acontecendo, não só no Brasil, como também no mundo todo, pois problemas semelhantes aos verificados nos últimos anos em Santa Catarina , Rio Grande do Sul e no Rio, por exemplo, já aconteceram em outras décadas: Porto Alegre foi vítima de uma enchente histórica, em 1941, que deixou o centro debaixo d’água. Nessa época, nem se falava em aquecimento global, danos à natureza provocados por desmatamentos e acúmulo de lixo.
Segundo estudiosos, os cataclismas da natureza não fazem mais do que repetir ciclos e até os próprios especialistas divergem quanto às causas e aos impactos do aquecimento global, cuja capacidade de análise é limitada.
Assim, não podemos depositar a culpa desses acontecimentos no homem como se somente ele fosse culpado de tudo. Muitas vezes, até mesmo por falta de comprovação e de estudos, joga-se a culpa no povo, na sociedade e, principalmente, nos políticos, que deveriam elaborar planos e metas para melhorar a infraestrutura das cidades, principalmente das grandes metrópoles, e regulamentar a não construção de moradias em áreas de risco, como por exemplo, beiradas de morros e locais próximos a rios.
É certo saber que transformações naturais do planeta vêm acontecendo desde que mundo é mundo e sem a interferência do homem, como podemos comprovar no que diz o pesquisador Carlos Tucci, professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS): “Existe uma incerteza grande. Mas o clima também sempre variou. Quatro mil anos antes de Cristo, por exemplo, o Saara era verde”.
Portanto, devemos ter em mente que o mundo é uma extensão muito grande de terra e que há lugares que são habitados pela “raça humana” onde, no entanto, não acontece nenhum tipo de catástrofe.
Comentando o texto:
Primeiramente, inicio o texto utilizando um modalizador do eixo do saber, com certeza, pois quero persuadir os leitores com minhas informações. Não poderia, portanto, iniciá-lo, por exemplo, usando a expressão Acho que não está na ação humana sobre o nosso planeta as principais causas para as grandes e avassaladores catástrofes que estão acontecendo...
Em seguida, uso vários argumentos em que me baseio em provas concretas, por exemplo, quando falo que catástrofes têm acontecido em Santa Catarina , Rio de Janeiro e Porto Alegre no ano de 1941.
Depois, utilizo argumento de autoridade no seguinte trecho: [...] como podemos comprovar no que diz o pesquisador Carlos Tucci, professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS): “Existe uma incerteza grande. Mas o clima também sempre variou. Quatro mil anos antes de Cristo, por exemplo, o Saara era verde”. Esse argumento serviu para eu reforçar minha afirmação de que as enchentes, os maremotos, os ciclones, os tremores de terra, nada tem a ver com a ação do homem. Mas, para usar esse tipo de argumento é preciso estar sempre lendo sobre diversos assuntos em jornais, revistas, etc, que sejam confiáveis.
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